Há trabalhadores que cortam até 30 toneladas de cana por dia, diz procurador

quinta-feira, 31 de maio de 2007


Em algumas fazendas de cana-de-açúcar, há trabalhadores que cortam até 30 toneladas dessa planta por dia, o que em alguns casos leva à morte por fadiga. A informação foi prestada pelo procurador do Ministério Público do Trabalho Alessandro Santos de Miranda em audiência pública realizada nesta quinta-feira (31), no Senado, para debater as condições de trabalho no setor sucroalcooleiro. O procurador ressaltou que a atividade nos canaviais é realizada geralmente com intenso esforço físico, ações repetitivas e posturas inadequadas que geram acidentes e as chamadas doenças ocupacionais.

No debate, realizado em conjunto pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e pela Subcomissão Permanente do Trabalho e Previdência, da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), o procurador também afirmou que, além da extensa jornada de trabalho, os cortadores atuam quase sempre sem proteção e sob a exposição intensa do sol. E as ferramentas utilizadas para o corte seriam muitas vezes inadequadas, tanto em termos ergonômicos como de eficiência. Como exemplo, citou uma foice de cabo curto que leva o cortador a trabalhar com o corpo envergado e pode provocar problemas de coluna.

Estima-se que ao menos 19 trabalhadores rurais morreram nos canaviais localizados no estado de São Paulo, desde 2004, por excesso de trabalho. Sob o impacto desses dados, as usinas vêm anunciando medidas para melhorar as condições de vida de seus empregados.
Para Alexandre Betinardi Strapasson, do Ministério da Agricultura, em vez de haver um posicionamento contra a produção de álcool - e, mais especificamente, de etanol -, é preciso oferecer condições mais dignas de trabalho para os cortadores de cana. Ele é o coordenador-geral de Açúcar e Álcool da Secretaria de Produção e Agroenergia desse ministério.

Strapasson declarou que o país vive "um novo período de glória da cana-de-açúcar" e pode tornar-se um líder internacional na área de energias renováveis. Também frisou que "o etanol gera emprego e renda", além de ser um combustível com menor impacto sobre o meio ambiente.
- Não podemos culpar a cana, mas sim o processo como isso está sendo conduzido - argumentou ele, ressalvando que os cortadores de cana recebem um salário maior do que receberiam em outras atividades do meio rural.

Mecanização

O representante do Ministério da Agricultura também destacou que há no setor uma tendência de mecanização do processo de colheita, o que leva à eliminação dos empregos dos cortadores de cana. Segundo ele, estão previstas 77 novas unidades industriais até 2010, todas elas com colheita mecânica. Ainda de acordo com Strapasson, existem atualmente 350 unidades industriais no setor, sendo que algumas delas já estão se mecanizando, principalmente no estado de São Paulo.

- Cada colheitadeira mecânica, com um caminhão acoplado, tira o trabalho de 80 cortadores de cana - alertou Strapasson, acrescentando que uma das soluções seria a inserção dessas pessoas em outras atividades da própria cadeia de produção do ramo sucroalcooleiro.

Ricardo Koiti Koshimizu / Repórter da Agência Senado
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